Historiador Cornélio Tácito |
A importância deste último livro e a autoridade do historiador são hoje reconhecidas no mundo inteiro. No 15º livro dos Anais, a partir do parágrafo XXXVIII, Tácito começa a narrar o terrível incêndio que quase destruiu totalmente Roma no ano 64 d.C.
Após descrever magistralmente o sinistro, o historiador diz que entre os escombros fumegantes, em meio às centenas de cadáveres e milhares de pessoas chorosas e desabrigadas, começou a se espalhar a notícia de que fora o próprio Nero que mandara incendiar a grande capital do Império Romano.
Nero ateou fogo em Roma e culpou os cristãos |
Ao saber que a suspeita pesava sobre seu nome, e temendo que a multidão se revoltasse e marchasse contra ele para matá-lo, Nero, o imperador incendiário, “mandou então abrir o campo de Marte, os monumentos de Agripa, e até os seus próprios jardins. Armaram-se barracas às pressas para recolher a gente mais pobre; mandaram vir de Óstia e outros municípios vizinhos todos os móveis necessários; regulou-se a venda do pão pelo preço mais baixo”. (Anais. Parágrafo XXXIX).
Após citar outras frustradas tentativas de Nero de acalmar e tapear o povo, Tácito escreveu as seguintes palavras conclusivas e de imenso valor para nós, pois fazem referência à existência dos cristãos primitivos e, principalmente, faz menção de Jesus Cristo:
Cristãos sendo mortos e incendiados por ordem de Nero no Coliseu Romano |
“O autor desse seu nome foi Cristo, que no governo de Tibério foi condenado ao último suplício pelo procurador Pôncio Pilatos. A sua perniciosa superstição, que até ali tinha estado reprimida, já tornava a alastrar-se não só por toda Judéia, origem deste mal, mas até dentro de Roma, aonde todas as atrocidades do Universo, e tudo quanto há de mais vergonhoso vem enfim acumular-se, e sempre acham acolhimento.
Leões sendo soltos para devorar cristãos no Coliseu Romano |
“O suplício destes miseráveis foi ainda acompanhado de insultos, porque ou os cobriram com peles de animais ferozes para serem devorados pelos cães, ou foram crucificados, ou os queimaram de noite para servirem como archotes e tochas ao público.
"Nero ofereceu os seus jardins para este espetáculo, e ao mesmo tempo dava-se os jogos do Circo, misturado com o povo em trajes de cocheiro, ou guiando carroças. Desta forma, ainda que culpados e dignos dos últimos suplícios, mereceram a compaixão universal por se ver que não eram imolados à utilidade pública, mas aos passatempos atrozes de um bárbaro.” (Tácito. Anais. Tradução de J.L. Freire de Carvalho. W.M. Jackson Inc. Rio de Janeiro. 1950. pp 405-409).
Fonte:Sublime Leitura
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