domingo, 22 de janeiro de 2012

Referencias Históricas sobre Jesus

PLÍNIO, GOVERNADOR ROMANO, FALA SOBRE OS CRISTÃOS
    No ano 112 d.C., o político romano Plínio, o Moço (62-113) (ele era conhecido como “o Moço”, pois havia um Roma outro Plínio, o Velho, seu tio) enviou uma carta ao imperador romano, Trajano, pedindo-lhe orientações quanto ao tratamento que deveria dar aos cristãos que estavam sendo perseguidos e presos na região onde ele, Plínio, governava.
     Ora, naquela região viviam os “eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia”,a quem Pedro destinou sua primeira epístola (1 Pedro 1.1). Devido à sua importância para a história do Cristianismo, e por ser um documento pouco conhecido pelos evangélicos brasileiros, transcreveremos a carta de Plínio integralmente, reproduzindo-a conforme ela se encontra no livro As Grandes Cartas da História, de autoria de M. Lincol Shuster (Trad. Manuel Bandeira. Companhia Editora Nacional. Rio de Janeiro, 1942. pp.37-39):

     “Adotei, senhor, como regra inviolável recorrer às vossas luzes em todas as minhas dúvidas; pois quem mais apto a remover os meus escrúpulos ou a guiar-me nas minhas incertezas do que vossa pessoa? 
     "Nunca tendo assistido aos julgamentos de cristãos, ignoro o método e os limites a serem observados no processo e punição deles: se, por exemplo, alguma diferença deva ser feita com respeito à idade ou, ao contrário, nenhuma distinção se observe entre o jovem e o adulto; se o arrependimento admite perdão; se a um indivíduo que foi cristão aproveita retratar-se; se é punível a mera confissão de pertencer ao cristianismo, ainda que sem nenhum ato criminoso, ou se só é punível o crime a ela associado. Em todos esses pontos tenho grandes dúvidas.
 
Estátua de Plínio, o Moço
      “Por enquanto, o método por mim observado para com aqueles que me foram denunciados como cristãos tem sido o seguinte: pergunto-lhes se são cristãos; se confessam, repito duas vezes a pergunta, acrescentando uma ameaça de punição capital; se perseveram, mando executá-los; pois estou convencido de que, qualquer que seja a natureza do seu credo, uma obstinação contumaz e inflexível certamente merece castigo. Outros fanáticos dessa espécie me têm sido trazidos que, por serem cidadãos romanos, remeto para Roma. 
     “Essas acusações, pelo simples fato de estar sendo o assunto investigado, começaram a estender-se, e várias formas do mal vieram à luz. Afixaram um cartaz sem assinatura, denunciando pelo nome grande número de pessoas. Aqueles que negaram ser ou ter sido cristãos, que repetiram comigo uma invocação aos deuses e praticaram os ritos religiosos com vinho e incenso perante a vossa estátua(a qual para este propósito mandei buscar juntamente com as dos deuses), e finalmente amaldiçoaram o nome de Cristo (o que não se pode arrancar de nenhum verdadeiro cristão), julguei acertado absorver.
     “Outros que foram denunciados pelo informante confessaram-se a princípio cristãos, depois o negaram; de fato, haviam sido cristãos, mas abandonaram a crença (uns faz três anos, outros há muito mais tempo, sendo que alguns há cerca de vinte e cinco anos). Todos prestaram culto à vossa estátua e às imagens dos deuses, e amaldiçoaram o nome de Cristo.
     “Afirmaram, contudo, que todo o seu crime ou erro se reduzia a terem se encontrado em determinado dia antes do nascer do sol, cantando então uma antífona (pequeno versículo cantado, antes ou depois de um salmo) como a um Deus, ligando-se também por solene juramento de não cometer más ações, e de nunca mentir e de nunca trair a confiança neles depositada; depois do que, era costume se separarem, e então se reunirem novamente para tomarem em comum algum alimento – alimento de natureza inocente (inofensiva).
     “Todavia, até esta última prática haviam abandonado após a publicação do meu edito, pelo qual, de acordo com as vossas ordens, proibira eu as reuniões políticas. Julguei necessário empregar a tortura para ver se arrancava toda a verdade de duas escravas chamadas diaconisas. Nada, porém, descobri, senão excessiva superstição.
     “Julguei por isso de bom aviso adiar qualquer resolução nesta matéria, a fim de pedir o vosso conselho. Porque o assunto merece a vossa atenção, especialmente se se levar em conta o número de pessoas em risco: indivíduos de todas as condições e idades, e dos dois sexos, estão e serão envolvidos no processo. Pois esta contagiosa superstição não se confina nas cidades somente, mas espalha-se pelas aldeias e pelos campos. 
     "Todavia parece-me ainda possível detê-la e curá-la. Os templos, pelo menos, que andavam quase desertos, recomeçaram agora a ser frequentados, e as solenidades sagradas, após uma longa interrupção, são de novo revividas; e há geral procura de animais para os sacrifícios, para os quais até bem pouco tempo poucos compradores apareciam. Por aí é fácil imaginar a quantidade de pessoas que se poderão salvar do erro, se deixarmos a porta aberta ao arrependimento.”
     A importância desta carta como documento sobre as origens do cristianismo é reconhecida por todos os historiadores da Igreja, e vem sendo citada pelos escritores cristãos, desde o tempo do apologista de Tertuliano e o historiador Eusébio de Cesaréia. 
      Sem ter sido esta a sua intenção, através desta carta, o governador Plínio nos forneceu um grandioso testemunho da propagação do cristianismo já no início do Século II. É um precioso documentário sobre a fé e a maneira como se reuniam em culto, e como eram perseguidas as primitivas comunidades cristãs.
     As dificuldades que nossos irmãos da Igreja Primitiva enfrentavam em todas as regiões dominadas pelo Império Romano eram tremendas. Além de serem acusados de ateus(!) por não cultuarem os deuses romanos, três outras grandes acusações pesavam sobre os cristãos: a de praticarem infanticídio (assassinato de crianças), canibalismo (comer carne humana), e incesto (relação sexual entre parentes). Um apologista cristão daquela época, chamado Atenágoras, escreveu no seu livro Legação em Favor dos Cristãos: “Somos acusados de três coisas: ateísmo, comermos nossos próprios filhos e haver entre nós relações sexuais entre filhos e mães.”



Fonte:Sublime Leitura

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